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Alcimar Frazão

 

Alcimar Frazão é um autor de banda desenhada brasileiro, também professor de desenho e BD. A sua obra, O Diabo e Eu, inspirada na lenda do guitarrista de blues Robert Johnson (1911-1938) foi, apesar da limitada edição de 300 exemplares, a primeira a chamar a atenção da crítica. 

Construída sem um único diálogo ou legenda, com um preto e branco impressivo, Frazão relata a história ficcionada da infância do guitarrista, o pai que não chegou a conhecer e o segundo casamento da mãe com um homem violento, de cujas garras Johnson libertaria. Segue-se a lenda do encontro com o Diabo, que fez dele o maior guitarrista de blues de sempre, até ao dramático desfecho.  A vida, o êxito, e a morte, obscuros, de Robert Johnson, geraram a lenda.

Pouco se sabe, de facto, de Robert Johnson, para além da lenda. A data exacta e o local de nascimento são duvidosos - pensa-se que terá nascido em 1911 em Greenwood, Mississippi -, e a sua morte é igualmente motivo de controvérsia; entre o Diabo que lhe terá exigido a vida em retorno pela arte e o sucesso que lhe teria oferecido na encruzilhada, e o dono de um bar que lhe teria envenenado o whisky com estricnina devido a um caso com a mulher. Certo apenas que faleceu em 16 de Agosto de 1938, com apenas 27 anos de idade.

Como músico, ele é considerado a mais importante referência do Mississippi Delta Blues, tendo contribuído para estabelecer o formato de 12 compassos do blues.
No decorrer da curta vida Johnson gravou apenas 29 músicas num total de 40 faixas, em duas sessões em 1936 e 1937. Entre os temas mais famosos estão “Me and the Devil Blues” e “Crossroad Blues”, que ajudaram a construir a lenda do encontro com o Diabo. As suas composições inspiraram músicos de blues como Muddy Waters, mas da mesma forma os Led Zeppelin, Bob Dylan, Eric Clapton, The Rolling Stones ou os Red Hot Chili Peppers.

O desenho denso e contrastado de Frazão, o fundo negro dos quadros que invade o desenho, a irregularidade das pranchas, as figuras cinocéfalas, os cães, os abutres e corvídeos, as cruzes, a encruzilhada, as moedas e objectos carregados de simbologia, a inevitabilidade existencialista da tristeza nos rostos, o negro do sangue, o blues (estado de alma), compõem uma história que dispensa as legendas; que mais do que um preito ao músico, é ela mesma uma canção: um blues.

Outros trabalhos de Alcimar Frazão são o premiado Cadafalso ou a ilustração de O Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson. Nos últimos anos Frazão tem estado na linha da frente da denúncia do governo de Jair Bolsonaro, com trabalhos gráficos na imprensa ou na intervenção de rua. 

A exibição da prancha de Alcimar Frazão, retirada de O Diabo e Eu, foi gentilmente autorizada pela editora Polvo.

 

O Diabo e Eu, pg. 25, Alcimar Frazão, 2015
© Rui Brito Edições e Alcimar Frazão